Matéria publicada no dia 09/04, no site do Agrolink, diz que estudo aponta que aproveitando áreas de pastagens a região pode ampliar produção de soja sem desmatar.
De uma lado uma produção de soja na casa de 122 milhões de toneladas na safra 19/20, mesmo com a estiagem no Sul um avanço de 6,1% frente a safra passada, de acordo com a Conab. De outro a necessidade de mais terra produtiva em contraponto a uma produção que não fere a biodiversidade e não desmata. É possível?
Um estudo conduzido pela organização ambiental The Nature Conservancy (TNC), que atua há 30 anos no Brasil com o objetivo de compatibilizar o desenvolvimento econômico e social com a conservação dos ecossistemas, mostra que há uma área de 18,5 milhões de hectares de pastagens subutilizadas no Cerrado, com potencial agrícola. O total é suficiente para ampliar a produção da oleaginosa por mais dez anos sem desmatar nada. Hoje a necessidade seria de aproximadamente 7,3 milhões de hectares para a expansão na década.
Os dados ajudam a indicar uma alternativa para o problema do desmatamento avaliado no estudo: 38% da produção (cerca de 3,65 milhões de hectares) de soja colhida no Cerrado no ciclo 2016/2017 estava em terras cobertas por vegetação nativa em 1999, enquanto a área de produção do grão aumentou no total 9,6 milhões hectares – ou 128% – entre 2000 e 2017.
Mais produção, maior valor agregado
O relatório aponta que a utilização de instrumentos financeiros podem ser usados para melhorar os retornos da produção de soja realizada em pastagens arrendadas ou adquiridas. Produtos financeiros, como financiamentos com prazos mais longos e custos mais interessantes para os produtores, podem ajudar a mudar a forma da expansão em favor dos modelos sem conversão de vegetação nativa e servir como complementos à crescente demanda do mercado por produtos mais sustentáveis. O modelo, então, estimula o financiamento para a aquisição e conversão de pastagens, em detrimento da aquisição de áreas preservadas.
Além disso a ideia é potencializar a produção brasileira e gerar produtos de valor sustentável, de maior valor agregado, preservando o meio ambiente sem interferir na produção agrícola. O estudo conclui ainda que a expansão da soja em terras de pasto já existentes possui menor custo e maior produtividade do que a conversão de áreas de vegetação nativa em cultivo – já que é três vezes mais rápido atingir rendimentos máximos de colheitas em terras de pastagens já convertidas. Ainda aponta uma combinação de ações para apoiar o desenvolvimento da pecuária, utilizando as áreas que não são ideais para a produção de grãos.
A expansão no Cerrado
A área do Cerrado é maior do que a soma dos territórios da Alemanha, Espanha, Itália, França e Reino Unido, ou quase cinco vezes o tamanho da Califórnia. É também uma das principais regiões agrícolas do mundo, considerada o centro da produção de alimentos nas últimas décadas.
No Cerrado, epicentro da expansão da soja no Brasil, em uma parte do bioma, na área agrícola conhecida como Matopiba, que engloba parte dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, mais de 80% da expansão da soja nas últimas duas décadas ocorreu sobre a vegetação nativa. Ainda, segundo o estudo, esta região é a que abriga os remanescentes mais significativos do Cerrado nativo em terras privadas adequadas para a produção de soja, reunindo 45% da reserva legal excedente do Cerrado, o que representa 4,5 milhões de hectares.