Produtores rurais brasileiros usaram outras opções, além do tradicional crédito bancário e uso do capital próprio, para financiar a safra 2016/17. Segundo levantamento da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) apesar das instituições financeiras ainda representaram o principal instrumento de crédito, neste ano [seguindo a tendência de 2015] aumentou a participação de revendas, empresas de insumos e cooperativas no financiamento das lavouras.
Conforme explica o economista da FGV/Markestrat, Matheus Kfouri Marino, “os bancos limitaram os recursos para atividade agropecuária”, e descapitalizados, os agricultores buscaram outros meios de financiamentos da safra. Porém, esses mecanismos costumam ter custos mais elevados e podem comprometer a renda dos produtores caso os preços e a produção não responda como esperado.
Os dados mais recentes do Índice de Confiança da Fiesp apontaram que os produtores esperam uma distribuição na seguinte ordem: 37% dos recursos virão dos bancos, 32% do capital próprio, 14% das cooperativas, 11% das revendas, 5% das indústrias de insumos e 1% das tradings.
Segundo Marino, crescente desde o início do ano, as trocas atingiram o ápice entre junho e julho, onde os preços da soja estavam atrativos. De agosto até o momento, o declínio do dólar e dos preços da oleaginosa na Bolsa de Chicago tem reduzido o volume de travas.
No Mato Grosso dados do Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Aplicada), apontam que até novembro apenas 28% da safra foi negociada antecipadamente, contra o percentual de 48% da temporada anterior.
Neste sentido, Marino destaca a cautela dos produtores neste ano, visto que em 2015 problemas climáticos causaram quebras significativas e prejuízos em quase todas as regiões produtoras. “Apreensivos com o clima e ainda vislumbrando um patamar superior de preço, os agricultores estão mais cautelosos”, acrescenta o economista.
Custos e riscos
Na busca de financiamento, ganharam importância fornecedores que vendem a prazo, fora do sistema financeiro, e que negociam insumos em operações de troca, o chamado barter. Do mesmo modo, a captação de recursos está cada vez mais custosa.
De acordo com Marino, “o produtor não cosegue mensurar o custo desses financiamentos. Esses valores vêm atribuídos aos produtos. Além disso, o fornecedor repassa parte do risco dessas operações”, explica.
Para ele o risco dessas operações será decisivo em meados de abril do próximo ano, onde os agricultores dependerão de bom retorno de produção e preço para saldar suas dívidas. “O perigo está lá na frente com a possibilidade de problemas de preço ou clima, que dificultaria o pagamento dos compromissos financeiros”, destaca Marino.
Neste sentido, um aumento de inadimplência nas revendas geraria um efeito cascata de endividamento com fornecedores e consequentemente uma redução no volume de financiamento por parte dessas modalidades no próximo ano.
Uma medida necessária neste momento, especialmente considerando as condições econômicas do país, seria a “redução o subsídio direto por parte do governo, como estimulo às fontes de recursos não controladas”.
Tendência
Atualmente todos os agentes da cadeia produtiva estão com dificuldade na tomada de crédito. Porém, no médio prazo, Marino começa a enxergar alteração neste cenário.
As expectativas e modificações políticas e econômicas pós-impeachment, retomou a confiança econômica brasileira possibilitando o retorno de capitais no mercado interno. “Com isso o dinheiro começa a ficar mais barato e disponível para atividades agrícolas, contudo, esse efeito só deve ser sentido na próxima safra”, pondera o economista da FGV.
Fonte: NA