Redução de arrecadação e desafios logísticos unem instituições em plano de recuperação econômica. Prefeitos e empresários destacam esperança em ações conjuntas para enfrentar a crise.
O cenário econômico e social do município de Estreito (MA) mudou drasticamente desde o desabamento da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, pouco mais de trinta dias atrás. A estrutura, que ligava o Maranhão ao Tocantins, era essencial para o transporte de mercadorias e o fluxo de pessoas. Desde então, o município e cidades vizinhas vivem o impacto direto dessa tragédia, que ceifou vidas e resultou na queda de arrecadação e no enfraquecimento do comércio local.

Na última semana, uma chama de esperança foi acrescentada nos esforços que já estão sendo empreendidos na região. É que o Sebrae Maranhão e parceiros deram início à realização de ações de apoio, iniciando com uma missão estratégica para ouvir gestores, empresários e lideranças locais. Desse momento de escuta, foram colhidas sugestões e ideias para um plano emergencial de recuperação econômica, com ações realizadas nos próximos meses. A agenda de visitas aconteceu entre os dias 21 e 23/01, sendo iniciada em Porto Franco, passando por Estreito e chegando, em etapa final, a Carolina e Riachão.
Nos locais visitados, o grupo ouviu empresários, autoridades, gestores locais, lideranças e empreendedores prejudicados, colhendo depoimentos e conhecimento sobre a realidade de cada localidade.
“O nosso fluxo caiu de 80% a 85% em comparação com um mês normal. Alguns dias atendemos apenas um ou dois caminhões; antes, esse número era muito maior”, relata Fernanda Wendler, proprietária da Xirú-Ar empresa de Estreito, que trabalha com acessórios e estofamentos para veículos. Ela explicou que, para evitar demissões, antecipou férias de 21 funcionários e está buscando alternativas para manter o negócio. “Estamos há 25 anos no mercado e pensamos até em abrir uma filial em Araguaína para continuar operando”, avalia a empresária.
O depoimento confirma os números e ilustra a situação da região. Estima-se que, nos primeiros três meses após o desabamento, houve redução de 50% na arrecadação de ICMS e 25% no ISS nos municípios de Estreito, Porto Franco, Carolina e Riachão.
Levantamento do Sebrae aponta que 88% dos empreendedores consultados na região sinalizam a necessidade de contar com orientações e consultorias para superação da crise, ressaltando não terem condições para vencer os desafios deste momento adverso sem contar com auxílio e apoio permanentes.
Para o prefeito de Estreito, Leo Cunha, a situação crítica exige criatividade e união de esforços. “Precisamos de ajuda e de outros olhares. Nossa economia depende da conclusão do porto e da nova ponte. Mas, até lá, é essencial enfrentarmos este momento com apoio estratégico”, avalia o prefeito, lembrando que o fluxo de veículos, que antes chegava a 4 mil por dia, caiu drasticamente para cerca de 100.
Deoclides Macedo, prefeito de Porto Franco, também reforça a gravidade da situação. “Somos cidades irmãs e estamos sofrendo impactos diretos. Isso não é apenas um problema econômico, mas também afeta a autoestima da região pelas perdas”, afirmou.

Já nos municípios de Riachão e Carolina, conhecidos pelo potencial turístico, os impactos, embora em menor grau, também preocupam. Paula Coelho, prefeita de Riachão, destacou a importância de reforço na capacitação do setor hoteleiro e para o comércio neste momento. “Queremos fortalecer nossos hoteis, meios de hospedagens e comerciantes. A parceria com o Sebrae será essencial para atravessarmos este momento de dificuldades”, afirmou ela.
Porém, enquanto alguns empreendedores contabilizam suas perdas mais significativas, outros enxergam oportunidades na crise. Rui Tadeu, proprietário de uma loja de artesanato em Carolina, registra o aumento no movimento do negócio, causado pelo desvio de veículos. “Precisamos de apoio para transformar esse fluxo em algo permanente”, apontou o empresário.
Mobilização institucional
Esses depoimentos foram colhidos durante visita técnica à região feita por representantes institucionais, técnicos e parceiros, mobilizados pelo desejo de contribuir para a superação das dificuldades dentro de seus campos de atuação.
Essa agenda estratégica surgiu de uma mobilização iniciada pelo Conselho Deliberativo do Sebrae no Maranhão (que reúne as instituições: Associação Comercial do Maranhão – ACM, Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Caixa Econômica, CEAPE Maranhão, Federação das Associações Empresariais do Maranhão – FAEM, Federação da Agricultura do Estado do Maranhão – FAEMA, Federação do Comércio de Bens Serviços e Turismo do Estado do Maranhão – Fecomércio, Federação das Indústrias do Maranhão – FIEMA, Secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação – SECTI, Secretaria de Estado da Indústria e Comércio – SEINC, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI, Sindicato da Construção Civil do Maranhão – Sinduscon e Universidade Federal do Maranhão – UFMA).
Reunidas no último dia 13/01, essas instituições aprovaram a agenda de visitas à região e decidiram somar forças para levar apoio e ajuda para a região, cada uma realizando ações e contribuindo da melhor forma para amenizar os problemas no sul do estado.
Plano emergencial prevê união, ações e atenção contínua.
Durante a rodada de visitas nos municípios, que ganharam caráter de escuta ativa para levantamento das necessidades que requerem atenção e urgência, várias ações foram anunciadas.
Entre as ações previstas estão capacitações técnicas, com oficinas e treinamentos a partir de fevereiro, e a realização do evento Transforma Agora, em 11 de março, para promover inovação e empreendedorismo. Em julho, o Mutirão Acredita deve ampliar oportunidades de acesso ao crédito, utilizando o Fundo de Aval do Sebrae (FAMPE) para garantir 80% da cobertura dos empréstimos. Haverá ainda campanhas para incentivar o consumo de produtos locais e a ampliação de consultorias do Sebraetec, com 400 soluções em tecnologia e inovação.
Entre outras ações já definidas, o Banco do Nordeste já está na região, trabalhando o apoio creditício e soluções para o empreendedor. O presidente do Sinduscon e vice-presidente executivo da Fiema, Fábio Nahuz, defende, por exemplo, a instalação do canteiro de obras no processo de recuperação no lado maranhense, no município de Estreito, o que ajudaria a dinamizar a economia e a oferta de emprego.
Ele avalia como positivo este primeiro passo da ação conjunta. “Um dos objetivos da nossa missão, do Sebrae, da Fiema, Federação do Comércio e de todas as instituições participantes é contribuir neste momento. Precisamos também olhar a infraestrutura do local. Queremos contribuir para que possamos trazer soluções para ajudar o poder público a minimizar os impactos causados aqui no nosso estado”, disse Nahuz.
Já o vice-presidente da Fecomércio, Manoel Barbosa, destaca a importância de apoio ao comércio, setor fundamental nas economias dos quatro municípios. “Estivemos na região para ver a atual situação, participamos de reuniões técnicas conjuntas, buscando avaliar a viabilidade das ações e dar a devida contribuição melhor e mais assertiva para esta região e, principalmente, para os comerciantes que mais precisam no momento”, explicou ele.
Representando o Banco do Nordeste na agenda de visitas, Francisco de Assis trouxe perspectivas e esperanças. “O Banco do Nordeste está aqui, participando, para mostrar o nosso apoio, discutir com os cliente e trazer novos recursos para que a gente supere esse momento de dificuldade”, frisou ele.
Para o presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Maranhão, Celso Gonçalo, a conclusão da etapa de visitas técnicas deixa a certeza de que as ações planejadas serão determinantes para a retomada gradual da economia nos municípios afetados. Ele avalia como um passo necessário o avanço para as ações concretas. “Este é o momento de fortalecermos a mobilização das instituições e dar prosseguimento no que podemos fazer de imediato. Já tínhamos algumas ideias e surgiram outras a partir das visitas e dos encontros com pessoas e autoridades da região. Buscamos ouvir todos os envolvidos para elaborar um plano com proposições adequadas para as necessidades e a realidade de cada cidade”, destacou ele.