Nova cepa tem mais mutações do que outras classificadas como preocupantes. OMS aponta risco aumentado de reinfecção

 

A África do Sul voltou ao centro das atenções e preocupações mundiais no que se refere à evolução da pandemia. Isso porque, há uma semana, cientistas que trabalham no país africano detectaram uma nova variante do Sars-CoV-2, chamada de Ômicron.

Na última sexta-feira, a OMS (Organização Mundial de Saúde) classificou a nova cepa de preocupante. A variante apresenta ao menos 36 mutações da proteína spike (parte do vírus responsável pela entrada na célula humana) e dez mutações só no receptor ACE2 (partícula que ajuda a criar esse ponto de entrada). Em comparação, a variante Beta tem três e a Delta, dois.

“Esta nova variante, B.1.1.529 [nome científico], parece se espalhar muito rápido. Em menos de duas semanas ela domina todas as novas infecções, após uma onda da Delta devastadora na África do Sul”, disse Oliveira.

Onde a variante já foi detectada?

A Ômicron tem potencial para se tornar predominante no mundo e superar a Delta, que, segundo a OMS, é responsável pela grande maioria de infectados com a Covid-19.

Na África do Sul, os infectados se concentram no centro econômico do país, na província de Gouteng, onde estão as cidades de Joanesburgo e Pretória. Os cientistas acreditam, no entanto, que haja casos em outras regiões.

Pessoas infectadas com Ômicron ficam em estado mais grave?

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Ainda não há evidências científicas de que a nova cepa seja mais transmissível. Os números de casos estão em alta, principalmente em algumas regiões da África do Sul, porque os estudos genômicos estão em andamento.

Para a OMS, não está claro se a infecção com Ômicron leva a um quadro mais grave da doença em comparação com infecções com outras variantes, incluindo a Delta. Dados preliminares sugerem que há taxas crescentes de hospitalização na África do Sul, mas isso pode ser pelo crescimento da doença por lá.

As únicas evidências apontadas pela Organização sugerem que há um risco aumentado de reinfecção com a variante. Isso que significa que pessoas que já tiveram Covi-19 podem ficar doentes mais facilmente com a nova cepa.

Quais os sintomas da infecção com a nova cepa?

Atualmente, não há informações de que sintomas associados à Ômicron sejam diferentes daqueles de outras variantes, de acordo com a OMS.

Entretanto, a médica Angelique Coetze, presidente da Associação Médica da África do Sul, em entrevista ao jornal The Telegraph, afirmou que os sintomas são mais leves e diferentes. Segundo ela, os pacientes apresentaram cansaço excessivo, dores no corpo e na cabeça, sem aparecimento de tosse nem perda de olfato e paladar.

Angelique ressaltou que as pessoas atendidas por ela eram jovens e serão necessários mais estudos para confirmar as mudanças.

“Temos de nos preocupar agora é [com o que vai acontecer] quando as pessoas mais velhas e não vacinadas forem infectadas com a nova variante. Se elas não forem imunizadas, veremos muita gente com a forma mais grave da doença”, disse a médica.

As vacinas são eficazes contra a nova variante?

Ainda não está claro para os pesquisadores se o novo vírus é capaz de superar a proteção das vacinas e qual é o poder dele de reinfectar pessoas que já tiveram Covid-19.

Vale destacar, porém, que a Ômicron foi mais detectada entre os jovens, a faixa etária que tem a menor taxa de vacinação na África do Sul. Somente um em cada quatro sul-africanos entre 18 e 34 anos está vacinado, conforme afirmações de Joe Phaahla, ministro da Saúde do país.

Segundo Tulio de Oliveira, um dos pesquisadores que descobriram a variante Beta, em dezembro de 2020, a cepa pode ser detectada por meio do exame PCR. Com isso, a descoberta dos casos pode ser mais rápida, o que ajuda no controle e no rastreamento de novas infecções.

A Pfizer anunciou na útlima sexta-feira (26) que já realiza testes com sua vacina e espera ter respostas sobre a eficácia do imunizante em até duas semanas.

Por ora, a OMS afirmou que os imunizantes atuais permanecem eficazes contra doenças graves e morte.

Qual o risco de a variante chegar ao Brasil?

Aqui, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) confirmou ontem que o teste de um brasileiro vindo da Etiópia, no sábado, deu positivo para Covid-19. O Instituto Adolfo Lutz está fazendo o sequenciamento genômico da amostra, e o viajante já está em isolamento.

A agência recomendou que o governo federal imponha medidas restritivas a voos e viajantes vindos de dez países da África: África do Sul, Botsuana, Essuatíni, Lesoto, Namíbi, Zimbábue, Angola, Maláui, Moçambique e Zâmbia.

Para Isabella Ballalai, vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), a indicação da Anvisa é válida porque, mesmo com os bons índices de vacinação no país, os números não são homogêneos em todas as cidades e a pandemia ainda não chegou ao fim.

“Enquanto o mundo não estiver completamente vacinado, qualquer país corre risco, ou seja, todos nós. As pessoas precisam entender que estamos em um bom momento no Brasil, mas não podemos esquecer que a pandemia não acabou. Nós temos coberturas vacinais excelentes no Rio, em São Paulo e em outras cidades. Mas há cidades com coberturas não tão altas”, explica Isabella.

E complementa: “Qualquer excesso pode trazer uma nova onda. Se não tivermos um controle da flexibilização e da entrada de estrangeiros no país, obviamente correremos risco”.

Quando foi encontrada a nova cepa?

O vírus foi descoberto na última terça-feira (23) em amostras coletadas em pacientes nos dias 14, 15 e 16 de novembro. Na avaliação de outros exames, foram encontrados mais 100 casos em Gauteng, província da qual fazem parte Pretória e Joanesburgo.

Como a Ômicron surgiu?

Cientistas acreditam que a nova variante tenha surgido em uma pessoa HIV positiva infectada com a Covid-19 que não foi tratada, a mesma hipótese levantada para o aparecimento da Beta no fim do ano passado. A África do Sul tem 8,2 milhões de pessoas infectadas pelo HIV. É o país com mais infectados no mundo.

 

Fonte: R7

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