Pesquisa da UFMA revela potencial de plantas maranhenses no combate a microrganismos e parasitos
Vencedora do Prêmio Fapema 2024, a pesquisa “Avaliação da composição química e do potencial antimicrobiano, antioxidante e antiparasitário de óleos essenciais e microemulsões de Duguetia stelechantha (Annonaceae) e Pectis brevipedunculata (Asteraceae)”, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Biotecnologia (Bionorte) da UFMA, avaliou e revelou o potencial biotecnológico dos óleos essenciais de duas espécies de plantas encontradas no Maranhão.
O estudo, conduzido pela doutora Auxiliadora Cristina Corrêa Barata Lopes, sob a orientação da professora da UFMA Cláudia Quintino da Rocha, analisou a composição química dos óleos essenciais, desenvolveu microemulsões para melhorar sua eficácia e investigou suas atividades antimicrobiana, antioxidante e antiparasitária.
A pesquisa extraiu óleos essenciais das plantas, verificou seus compostos e desenvolveu microemulsões para potencializar os efeitos dos óleos. Nos testes, o óleo de Duguetia stelechantha mostrou alta concentração de β-pineno, α-pineno e espatulenol — compostos químicos naturais —, enquanto o de Pectis brevipedunculata se destacou pelo citral, conhecido pelo aroma cítrico e ação antimicrobiana. Desse modo, a microemulsão — mistura dos óleos essenciais com outros componentes — apresentou até trinta vezes mais eficácia para os resultados pretendidos.
As duas plantas são encontradas na biodiversidade Maranhense, a Duguetia stelechantha pode ser localizada na cidade de São Bento e a Pectis brevipedunculata em São Luís, inclusive na Cidade Universitária da UFMA. As pesquisadoras destacam que essas espécies ainda são pouco exploradas cientificamente, mas apresentam grande potencial para o desenvolvimento de novos produtos sustentáveis.
A parte prática da pesquisa foi realizada no Laboratório de Química dos Produtos Naturais, do Centro de Ciências Exatas (CCET) da UFMA. A professora e orientadora da pesquisa, Cláudia Quintino, explica como foi feito o processo de obtenção e análise dos óleos essenciais. “Nós extraímos o óleo essencial por meio da hidrodestilação, um processo que utiliza a água para retirar os compostos voláteis e os princípios bioativos presentes nas plantas. As folhas utilizadas vêm de espécies encontradas no Maranhão, e, embora também existam em outros estados, fazem parte da nossa biodiversidade local. O óleo essencial é extraído das folhas. No processo, as folhas são fragmentadas, adicionadas em água e aquecidas. Os compostos evaporam, são condensados e, assim, obtemos o óleo essencial”, detalha.
Os resultados apontam para atividade antimicrobiana. Durante as análises, as pesquisadoras observaram que, com a potencialização dos óleos essenciais em microemulsões, os componentes combateram significativamente várias bactérias patogênicas, apresentando um resultado semelhante ao de antibióticos, como penicilina e gentamicina.
A pesquisa também investigou o efeito contra a Leishmania amazonensis, protozoário causador da leishmaniose. As microemulsões se mostraram altamente eficazes, conseguindo matar o parasito com doses baixas e sem causar toxicidade às células saudáveis. Esse dado reforça o potencial de desenvolvimento de novos medicamentos a partir dessas plantas, sobretudo no Estado do Maranhão, onde há alta concentração da doença, segundo a Secretaria de Estado da Saúde do Maranhão (SES).
“Nós utilizamos os óleos essenciais dessas duas espécies e, a partir deles, desenvolvemos duas formulações que foram testadas em alguns microrganismos, como o parasito Leishmania, causador da leishmaniose — uma doença que representa um problema de saúde pública mundial e que afeta fortemente o nosso estado, um dos mais atingidos do Brasil. O tratamento atual da leishmaniose apresenta algumas limitações, como a resistência do parasito, a toxicidade para as células e diversos efeitos colaterais nos pacientes, o que muitas vezes leva à interrupção do tratamento. Diante dessa problemática, nosso trabalho buscou uma alternativa terapêutica para o tratamento da leishmaniose”, frisa Auxiliadora Barata Lopes.
A pesquisadora também destaca outro resultado relevante das análises, relacionado à conservação dos alimentos. O teste, feito em morangos, demonstrou que a aplicação das microemulsões auxiliou no combate a fungos e aumentou a vida de prateleira dessa fruta, funcionando com uma alternativa natural ao uso de conservantes químicos. “Por meio dos óleos essenciais e das formulações desenvolvidas com a incorporação desses óleos, obtivemos resultados bastante promissores. Também avaliamos a atividade antimicrobiana, verificando a ação desses óleos essenciais e formulações frente a cepas de bactérias e fungos, analisando o potencial desses bioprodutos para inibir esses microrganismos e atuar na conservação de alimentos”, relata Auxiliadora Barata Lopes.
A pesquisa indica novas alternativas mais econômicas e sustentáveis no combate a diversos fatores e riscos para a saúde na sociedade, especialmente no Estado do Maranhão. Além de apontar opções, também destaca aspectos regionais que podem ser explorados e analisados em larga escala para atingir a população.
Para os próximos passos do estudo, as pesquisadoras pretendem fazer ensaios in vivo, a fim de analisar seus efeitos em seres vivos.
Premiação

A pesquisa de Auxiliadora Barata Lopes foi premiada na 19ª Edição do Prêmio Fapema, na categoria Tese de Doutorado – área de Ciências Exatas e Engenharias. O reconhecimento do trabalho contribui significativamente para impulsionar a pesquisa e a sustentabilidade maranhense, tema central da 19ª edição.
Para Auxiliadora, “é bem representativo. A gente se inscreve, concorre, mas fica surpresa com o resultado. É o reconhecimento do nosso trabalho, que promoveu, justamente, o tema do prêmio dessa edição: inovação, desenvolvimento e sustentabilidade para o Maranhão. É representativo também ter mulheres na ciência, que já tem um número crescente, mas ainda precisa melhorar, principalmente em termos de reconhecimento e oportunidades, sobretudo na área de ciências exatas, uma área majoritariamente masculina. Fomos as únicas mulheres finalistas da área de exatas na categoria Tese de Doutorado. Então percebemos uma representativa ainda baixa. Desse modo, serve de incentivo para meninas e mulheres que estão na pesquisa, que é possível que nós também tenhamos nosso lugar”, ressalta.
A professora e orientadora da pesquisa, Cláudia Quintino, expressa que é uma satisfação ver seus alunos recebendo premiações como essa. “Para mim, a maior alegria é por ela, porque é uma menina, é uma doutora. Para a gente é muito importante e mostra como podemos trazer mais responsabilidade, visibilidade e um exemplo para futuras gerações, de alunos que estão entrando agora na Universidade. Para mim, a maior alegria uma ex-aluna minha, agora minha colega, porque agora ela é pesquisadora também, recebendo o prêmio. Esse é um dos primeiros prêmios que eu recebo junto com aluno, então isso é mais importante do que um prêmio para mim sozinha”, manifesta.
Auxiliadora segue dedicada às pesquisas nas áreas de biodiversidade e biotecnologia. Atualmente, cursa o pós-doutorado no programa em Rede Pós-Amazônia do CNPq e planeja ampliar os estudos, com foco em novas contribuições para a área de óleos essenciais e formulações.
Por: Sarah Dantas
Revisão: Jáder Cavalcante