Isolamento social e convivência diária desafiam casais na pandemia

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    A pandemia da Covid-19 proporcionou mudanças na vida de muitas pessoas. Se para alguns, o isolamento social tem servido para passar mais tempo ao lado da família e fortalecer os laços afetivos, na vida de outros, esse período contribuiu para o fechamento de ciclos. Isso, no entanto, não necessariamente representa algo negativo, podendo, inclusive, ser motivo para a criação de novas perspectivas.
    Anna Clara Rodrigues, 29, foi casada durante 4 anos e meio, e teve uma filha, atualmente com 3 anos de idade, com o seu ex-companheiro. Entre as idas e vindas da vida, os problemas conjugais se tornaram evidentes e a relação se desgastou, ao ponto de afetar a analista em outros setores da vida. Ela deu entrada no processo de divórcio no início deste ano, em meio à pandemia da Covid-19, depois de esperar o “melhor momento” para decidir se separar formalmente. No momento, as documentações de bens partilhados estão sendo recolhidas.
    Para Anna Clara, apesar de antes já pensar no assunto, o período pandêmico influenciou na sua decisão. “A pandemia teve uma certa influência, porque eu pude repensar muita coisa da minha vida e pude tentar achar novos rumos para algumas áreas enquanto ainda havia tempo”, enfatizou.
    De acordo com dados do Colégio Notarial do Brasil, foram registradas 29.985 separações nos cinco primeiros meses deste ano, contra 23.621 divórcios no mesmo período de 2020, ano em que o país registrou recorde de separação. A Defensoria Pública de Pernambuco informou que o estado teve o registro de 8.355 divórcios, no ano passado, e 3.513 em 2021. A maior convivência doméstica, proporcionada pelo isolamento social, e a facilitação do processo de atendimento, que, hoje, pode ser feito online, foram apontados como fatores que contribuíram para o aumento dos casos, que, para muitas pessoas, pode simbolizar um recomeço.
    “Infelizmente, a pessoa com quem eu dividia a vida acarretava em muitos problemas. Antes, existiam preocupações do casamento que acabavam afetando todas as áreas da minha vida. Hoje, eu já não tenho mais esses problemas. Me sinto mais leve, tenho a cabeça livre para pensar em outras coisas e explorar outros universos”, acrescentou Anna Clara, que hoje passa por um processo de divórcio consensual depois de enfrentar alguns entraves com o ex-companheiro.
    Segundo a coordenadora da subdefensoria civil do estado, Jeovana Colaço, foi observado que, a partir da chegada do teleatendimento, decorrente da pandemia, as pessoas viram que poderiam resolver de forma mais rápido a questão da separação – que, por si só, é um processo complicado e que exige cautela -.
    Foi o caso de Maria Rosângela Ramos, que ainda carrega no nome o “Santos”, sobrenome herdado do marido. Eles passaram 30 anos casados, mas a cuidadora de idosos, de 52 anos, decidiu que a relação não tinha mais futuro. O processo de divórcio foi iniciado há cerca de três meses. As documentações de ambos estão sendo recolhidas, e a audiência, ainda sem data para acontecer, será realizada online.
    “Já não estávamos bem há muito tempo e com essa situação caótica que estamos passando (pandemia), piorou. Para estar com uma pessoa que não tem a mesma perspectiva de vida, não sonha e idealiza igual a você, é melhor separar”, disse, antes de colocar em evidência o que projeta para o novo ciclo.
    “É como se eu tivesse mais liberdade para colocar coisas em prática que eu enquanto casada não colocava.  Meu novo ciclo começa daí. Quando se vive com outra pessoa, é preciso compartilhar os ideais e a gente já não batia muito. Sinto que eu sozinha vou conseguir colocar meus novos sonhos em prática”.
    Considerando os casais que dividiam a mesma casa e se separaram durante a pandemia, a especialista em terapia cognitiva-comportamental, Tássia Queiroz, explicou que o isolamento social vem exigindo das pessoas a reformulação de estratégias para uma boa convivência. O que, em muitos casos, não vêm acontecendo. Além disso,  relacionamentos que já atravessavam dificuldades, como perda de intimidade e conexão, ficaram ainda mais frágeis.
    “É como se, de repente, as pessoas não tivessem mais como extravasar o estresse. Passaram a ter menos momentos de lazer, menos momentos de prazer e, assim, os relacionamentos, que às vezes já vinham em um processo de desconexão, acabam se tornando cansativos. O casal passou a não ter mais as estratégias de antes para lidar com a presença diária e intensa do outro”.
    Fonte: Diário de Pernambuco
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