A pandemia não distanciou o agricultor brasileiro das inovações digitais. Na verdade, o caminho parece ter sido o oposto disso, a julgar pela multiplicação no país das agtechs, como também são chamadas as empresas iniciantes de base tecnológica voltada à agropecuária.

Em 2020, o número de startups do agro cresceu 40% em relação ao ano anterior, segundo o levantamento Radar AgTech Brasil, obtido com exclusividade pelo Valor. Ao todo, a pesquisa identificou no ano passado 1.574 empresas brasileiras; em 2019, eram 1.125. Do universo total, 223 tiveram apoio de 78 instituições para incubação, aceleração e investimentos.

O estudo, elaborado em parceria entre Embrapa, SP Ventures e Homo Ludens, mostra que a região Sudeste encabeça a lista, com destaque para o Estado de São Paulo, que detém quase metade dessas empresas (747). A cidade de São Paulo tem 345, seguida de Piracicaba (60), Curitiba (59), Rio de Janeiro (54), Campinas (48), Porto Alegre (42), Belo Horizonte (40) e Ribeirão Preto (39).

Para a diretora-executiva de Inovação e Tecnologia da Embrapa, Adriana Regina Martin, a adoção digital cresceu durante a pandemia. “Essa realidade coloca o país em uma posição diferenciada que pode facilitar as transições para a competitividade e o futuro do setor agropecuário, fomentando ferramentas para agroecologia, bioeconomia, agricultura urbana, sistemas alimentares, agricultura vertical, smart farming (agricultura inteligente) ou agricultura digital”, disse, em nota.

No ano passado, o número de agtechs quase dobrou no Nordeste. Segundo o estudo, havia 72 novos empreendedores na região, acima dos 37 de 2019.

No país, o levantamento identificou 316 cidades com agtechs, sendo que 26 delas têm um ecossistema formado por pelo menos dez empresas. “Os dados mostram que, apesar de ainda haver a liderança dos centros tradicionais, a cultura de empreendedorismo e inovação está chegando com força a novos locais”, disse, em nota, Luiz Ojima Sakuda, sócio da Homo Ludens.

Para a coordenadora do estudo na Embrapa, Shalon Silva, o levantamento também servirá para nortear as ações da empresa com outros hubs de inovação, como foi o caso do Nordeste. Segundo ela, a metodologia e a checagem do estudo foram feitas de forma online, com uma equipe de 20 pessoas.

A maioria das agtechs brasileiras (718) atua na categoria depois da fazenda, em soluções como marketplaces e plataformas de negociação, venda de produtos agropecuários e alimentos inovadores e novas tendências alimentares. Em seguida aparecem as empresas que atuam da porteira para dentro (657) e que investem, principalmente, em sistemas de gestão de propriedade rural, soluções e dados, drones, máquinas e equipamentos. As startups que atuam antes da fazenda (199) estão prioritariamente voltadas para a área de fertilizantes e defensivos agrícolas, inoculantes e nutrição vegetal.

O maior número de startups (293) foi registrado entre as que desenvolvem alimentos com melhores índices nutricionais, utilização de ingredientes substitutos e nova utilização de ingredientes já existentes, seguindo uma forte tendência dos consumidores.

Daniel Trento, coordenador de Articulação para Inovação do Ministério da Agricultura, aponta um crescimento consistente na geração de inovação ao agronegócio, com qualidade e diversidade nas soluções criadas. “Isso mostra que o ecossistema de inovação do agro brasileiro certamente é um dos mais dinâmicos do mundo”, afirmou ao Valor. Ele ressaltou também que já existem mais de 20 hubs de inovação agropecuária pelo país, o que pavimenta o caminho promissor ao empreendedorismo neste setor.

 

Fonte: Valor Econômico.

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